Olá pessoal.. pra quem acompanha aqui há um bom tempo sabe que não sou muito de falar sobre relacionamentos aqui, mas tem sido algo forte no meu dia a dia e gostaria de compartilhar algo.
Acho que já citei aqui que tenho um relacionamento onde a outra pessoa pensa diferente de mim sobre finanças. Na situação dela, ela está com os cartões (sim no plural) de crédito abarrotados e no limite do salário (este até com limite estourado alguns meses atrás mas parece que "normalizou"), e é uma pessoa mais imediatista que parece não pensar quase nada no futuro, vive numa situação onde não acredita que possa chegar a velhice, então não valeria a pena ter investimentos.
Ela é de outra cultura - o que não justifica, mas parece influenciar muito também. Infelizmente já cheguei até a falar pra ela se ele tem certeza de que quer estar comigo e não com alguém com mais posses e que realmente possa dar uma vida mais luxuosa (que parece ser um desejo dela ao longo desses anos), mas ela sempre justifica que sou a melhor pessoa que ela encontrou e que poderíamos ter uma família feliz. Isso me alegra, mas também sei que ela tem essa visão por conta da cultura, onde lá o homem é, em 90% da vezes aquele cara que chega do trabalho e senta no sofá pra assistir 'futebol, jornal, etc' e não ajuda em nada nas afazeres da casa (mesmo que a mulher também trabalhe fora). Então pra ela, saber que vou dar suporte mesmo que ela não tenha condições de trabalhar, parece ser uma vantagem grande. Além disso praticamente todo dia que nos falamos (estamos a distância) ela sempre ri e diz que é o momento mais leve do dia dela por conta da rotina do trabalho e transito, mas diz que se sente leve e que sente que dou o suporte que ela precisa (são palavras dela, não estou aqui pra falar bem de mim)!...
Mas enfim, quando o assunto são finanças, ela diz não entender e até ter medo de avançar no relacionamento por eu dizer que quero me aposentar daqui uns 10 a 15 anos.. claro, seguido de toda explicação do que é a Independência Financeira, explicar que não é aposentar pra ficar parado em casa, mas pra ter realmente liberdade de trabalhar no que eu quero e quando eu quero (e sim, as vezes ficar a toa em casa sim), poder ter liberdade de tempo para viajar quase sempre que quiser e, no mínimo, poder ter tranquilidade de ter comida na mesa e teto para morar garantidos (ou quase) pro resto da vida.
Eu sinceramente não sei mais o que explicar pra ela entender, acho que talvez com o exemplo prático ela entenderia, mas é um processo longo.. e o relacionamento vai esperar 15 anos pra entender do que eu tava falando? Acho complicado.
Na verdade já teve exemplo prático. Esses dias ela teve problemas com o carro e estava chateada de que não poderia mandar arrumar o carro por não ter mais dinheiro e que o conserto extrapolaria o salário dela (ah, quando não é pra comprar coisas supérfluas ela não gosta de estourar o crédito.. digo, ela vai consertar o carro - ou seja, não vai ter nada "a mais" do que ja tem e sim "dar dinheiro ao mecânico" - pelo menos é isso que parece do meu ponto de vista quando ela explica).
Enfim, exatamente agora, estou com um carro 'emprestado' e esse carro deu problema também.. vou gastar 1000 reais, do nada, pra consertar. E vocês aqui do blog com certeza já sabe qual a diferença dessas duas situações.
Mostrei pra ela a vantagem de ter uma reserva de emergência. Estou com zero preocupação quando ao conserto do carro, sei que nos próximos meses tenho que reconstruir a reserva e pronto. Já tenho um plano e o combinado (comigo mesmo) não saiu caro. Tentei mostrar de um jeito a não parece que "sou o mais inteligente", mas sim no sentido de explicar como ela pode ter uma vida mais tranquila e com menos ansiedade quando imprevistos acontecem.
Uma "semelhança" que temos é que ambos estamos comprando um apartamento (se ela tivesse decidido há um tempo atrás poderíamos estar comprando juntos um mesmo apartamento, mas, ela se sente mais segura assim, então não vejo problema também).
Porém tenho uma reserva de pagamento de pelo menos 6 parcelas caso eu perca o emprego. Uma hora explico como, mas tenho uma condição de 0% de juros, sim 0%. Claro, abri mão de algumas vantagens na negociação. Mas faz parte e sei que é algo fora da curva.
Ela tem um financiamento, se não me engano a 7%, para pagar em 30 anos. Ela me disse que tem o plano de amortizar e pagar no máximo em 5 anos, porém o financiamento "come" 40% do salário dela (sim, acima dos 30% permitidos porque ela também paga a parcela da entrada). Porém não vejo ela fazendo reserva e ela não tem FGTS pra usar como amortizador (essa é uma desvantagem que tenho também. Acho que com o contrato que fiz não consigo usar o FGTS). Enfim, não entendi onde há um "plano". No máximo ela pode estar planejando ganhar mais no emprego dela. Mas ela ja trocou de emprego pelo menos umas 4x desde que a conheci (e está pra trocar a 5a vez), mas sempre com o mesmo salário (muito próximo ao meu). Ela tem uma vantagem nisto, porque onde ela mora é bem fácil trocar de emprego, e na mesma área. Não é igual aqui que você morre de medo de perder o emprego porque só vai conseguir outro daqui 3, 6, 12 meses.
Estou falando principalmente do ponto de vista financeiro. Em todos os outros aspectos nos damos muito bem, a gente sempre se surpreende como é fácil conversar sobre qualquer assunto.. desde cultura, política, religião, música.. dia a dia...até mesmo quando tem DR conseguimos nos entender bem. A única parte que parece ter um atrito é as finanças.
E, infelizmente sei que estatisticamente é alta a taxa de separação por conta deste aspecto e realmente fico bem chateado de pensar de algo como o dinheiro (que enxergo apenas como uma ferramenta para o dia a dia) possa destruir um relacionamento embasado em outras coisas, na minha visão, muito mais importantes como o amor, o carinho e o respeito.
Isto está sendo um dos 'bloqueios' para nosso relacionamento avançar, mas também há outras coisas extremamente importantes... mas diria que pelo menos uns 30% é por conta disto. os outros 70% é a distância que estamos agora que, para ela, está sendo uma barreira difícil de transpor (também, novamente por aspectos culturais e sentimentais). Para mim seria mais fácil quebrar essa barreira, mas lá onde ela mora eu teria muito problema pra obter emprego, por conta da língua não ser das mais convidativas a se aprender, do fato de ser um estrangeiro que é bem pouco valorizado e a cultura de que eu, como homem, deveria prover a casa - não me importo de fazer isso, até ficaria feliz de saber que dou esse suporte - mas com um salário ruim lá seria apenas impossível com as pretensões de gastos que ela já tem sozinha. Até já tentei enviar currículos, mas não aceitam apenas ter o inglês e não saber a língua nativa. Já tentei aprender e consegui algumas poucas palavras - mas o esforço e o tempo para isso foram hercúleos... definitivamente não tenho facilidade com línguas, meu forte sempre foram as exatas.
Pra finalizar, saibam que toda essa visão que coloquei aqui é abertamente conhecido por ela, e essa, sempre a lembro, é a maior vantagem em nosso relacionamento: somos abertos, diretos e sinceros. Sempre. É o pilar do relacionamento. E venho entendendo que é isso que faz estarmos juntos há tanto tempo... sem joguinhos de tentar adivinhar o que ela pensa, de ficar com cara emburrada, mas não falar o que tem. De, se não quiser falar, saber que o outro não tem como ajudar e que está tudo bem - uma escolha de não ser ajudado, também é uma escolha. Se aconteceu algo que não gosto eu falo na hora. Se eu fiz algo que ela não gostou, ela fala na hora. Isso já ajudou diversas vezes a eu rever meu comportamento e não ajuda apenas no relacionamento, mas a nos tornarmos pessoas melhores. Isso é realmente incrível, pela primeira vez vivo isto ao me relacionar.
Bem, meio que dei uma desabafada aqui sobre as minhas últimas preocupações neste assunto de relacionamento. Novamente, nenhum relacionamento de anos pode se resumir em uma página de blog, com certeza esqueci de diversas coisas ou mesmo não quis entrar em detalhes de outras (o que faz ser uma visão da minha parte).