sábado, 22 de fevereiro de 2020

Os dias que passavam antes da decisão de sair do emprego público


Algumas pessoas já me fizeram perguntas como "onde você trabalha?" e afirmações: "Day-Trade é loucura!"

Já expliquei em posts diversos a situação que me fez sair do emprego, mas resolvi condensar e detalhar (a quem interessar e conseguir chegar até o final do texto) um pouco da história neste post.

PESSOAS AO MEU REDOR...

Quem me conhece pessoalmente fizeram muito mais afirmações desse tipo acima, e acredite, uma delas até deixou de falar comigo porque não segui o conselho dela de ficar onde estava, enquanto outros me apoiaram por interesse (um cargo publico vago em determinada posição é sempre de interesse de alguns) e outros valorosos amigos me deram conselhos para NÃO sair de lá, mas uma vez tomada a decisão me deram o apoio e o ombro amigo de quem entendia que a situação era insustentável e, hoje digo com mais clareza, chegou a trazer riscos para minha própria vida em certo ponto e creio que eles perceberam isso.

OS DIAS QUE PASSAVAM...

É até um pouco difícil escrever sobre como foram aqueles dias, mas lembro que o dia em si, da saída, iniciou como já vinha acontecendo a mais de 1 ano e meio pelo menos, e com mais intensidade nos últimos 6 a 12 meses:

Imagine por tanto tempo abrir o olho, deitado e ainda imóvel na cama, o primeiro pensamento do dia:

Primeiro pensamento: muita tristeza e infelicidade


"Que droga, preciso levantar para ir àquele lugar!" - e obviamente não é só a frase, mas todo o sentimento negativo que já vinha com ela logo no início do dia, no primeiro pensamento - não tinha nem chance de tentar pensar antes em outra coisa e mudar o foco!

Generalizando para outros dias anteriores, demoro, mas quando consigo levantar começo a enrolar, pois onde trabalhava tem uma certa tolerância de atraso, então faço de tudo pra chegar no limite desta tolerância (embora no final do mesmo dia tenhamos que pagar esse atraso, mas o final do dia era sempre mais prazeroso pois era próximo da hora de ir embora!) - aliás... nunca tinha hábito de tomar banho de manhã, sempre tomava à noite para dormir... comecei a tomar banho cedo todos os dias, mas nem o banho salvava do arrasto que era me trocar - aquele uniforme com cara de tristeza...

Acho até que meu carro vivia com problema que era pra eu poder chegar mais atrasado ainda... pelo menos umas 3 vezes em um espaço de duas semana mais ou menos, o óleo inteirinho do carro vazou na garagem e precisei aguardar o mecânico para poder consertar e sair para trabalhar - "místicos diriam que era o destino me mostrando o caminho"

FOTO REAL: uns três dias com vazamentos desse nível: 3 L de óleo novinho do pálio indo pro saco

Quando eu finalmente conseguia chegar lá, era bater o ponto colocar as 'ferramentas' em suas posições e ficar lá com a cara mais infeliz do mundo aguardando os clientes que chegavam com os mais diversos humores.

Por alguns instantes eu esquecia: o pessoal que trabalhava comigo parecia perceber o que eu sentia e pareciam tentar me animar algumas vezes, mas em 90% do tempo só ficava pensando no porque eu fazia o que eu fazia, no porque eu estava lá se não me fazia bem, no porque temos que passar por coisas e sentimentos pesados como o que eu sentia só por causa de dinheiro. Não me parecia justo uma parte da minha juventude estar sendo drenada daquele jeito; como sempre disse : "tempo vale muito mais do que dinheiro", e eu tava trocando um pelo outro, na mão errada, com desequilibro ao meu ver - claramente não em quantidade: minha carga horária era ótima para um padrão de trabalho assalariado comum, mas em qualidade: simplesmente não valia a pena.

As horas passavam e chegava a hora de ir embora, acho que começava a dar sinais de felicidade e alegria em alguns dias, fechava meu ponto e saia rápido e voraz por vida fora daquele lugar: poderia seguir meus estudos em engenharia, meus projetos de eletrônica e de programação, o estudo do trade, o piano, a música: tanta coisa, mas para pouco tempo... confesso que nem as 24h do dia me permitem fazer tudo o que eu quero fazer (e isso ainda é um problema a se resolver).

Mas enfim, chegava em casa e descobria que estava simplesmente EXAUSTO, cansado demais para fazer tudo isso, partia para as coisas até que prazerosas, mas de cunho mais obrigatório também: minha faculdade. Tinha um período de descanso, mas depois já ia cumprir com as obrigações de estudo - afinal se eu seguisse o cronograma, no final de semana eu conseguirei fazer as outras coisas que tanto desejo...

Exaustão, cansaço e fadiga em níveis altos viraram rotina pós trabalho


...mais um engano... a exaustão que aquele lugar trazia pra minha vida de forma geral já não me permitia seguir corretamente com os cronogramas de estudo  e logo, ficavam coisas para a sexta a noite, para o sábado, para o domingo até a noite... e fazia tudo de maneira arrastada e CANSADO. Não tinha feito ao final as coisas que me davam mais prazer e poderiam trazer algum alívio. E logo chegaria segunda-feira e tudo recomeçaria.

Além disso, já estava se corroendo meu namoro (que já não ia muito bem) e claramente essa situação e esse sentimento só pioravam a maneira como eu conseguia lidar com ele (isso durante um bom tempo antes de eu sair do meu trabalho) até que o relacionamento fosse quebrado, e isso colocaria durante meses (e posso dizer na verdade que até hoje) um peso a mais no que eu já vinha sentindo.


Diante de toda essa situação me considero fraco ainda por não ter resistido mais um tempo, não ter seguido o plano financeiro que eu tinha para entrar de cabeça no trade e não ter que fazer isso de uma hora para outra.

Mas acho que fica claro que sair PARA me tornar um trader, foi apenas um detalhe de um plano que estava SIM em andamento - com valores e momento marcado - mas não o motivo único e total.

No meio disso tudo ainda tinha a relação com meu superior imediato (que não era ruim, mas também não colaborava) e o superior dele que aí sim me pergunto até hoje se já não beirava o assédio moral e que talvez eu devesse ir às vias de justiça antes de não ter suportado e pedido para ir embora (para ele inclusive) - mas não só pensar em justiça, mas ao mesmo reagir para mim já não me pareciam, na situação em que eu me encontrava, ao menos uma solução - talvez eu nem mesmo tenha pensado sob este aspecto à época.

Foi pelo menos um ano a um ano e meio sentindo estas coisas e tentando lidar, então obviamente faltaram muitos outros fatos, situações e sentimentos a serem citados.

Mas termino o 'relato' por aqui - isso se alguém suportou chegar até aqui, afinal, isso não foi nem de longe uma história feliz e de superação, logo, provavelmente desinteressante, mas além de falar para alguns que me perguntam, talvez tenha sido um tipo de desabafo ainda entalado na garganta.

Obs: escrevi em partes e durante muito tempo e só agora entendi que estava completo o suficiente para postar (então perdoem se houve alguma desconexão - dúvidas que posso tirar nos comentários abaixo)

4 comentários:

  1. Boa sorte! Viver de trade é um sonho de muitos, eu já tive esse sonho quando era mais jovem, só que tinha conhecimento suficiente pra saber que eu precisaria de no mínimo uns 100k na época pra isso ser possível, contando muito com a sorte. Hoje em dia acho que a vida de trade é muito estressante e não quero isso mais para mim. Boa sorte mais uma vez!

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    1. Realmente tenho sentido que é estressante a dedicação exclusiva e por isso ainda tenho tentado abrir portas pra outras habilidades pessoais e isso tem aliviado um pouco do estresse do mercado. Cada um acaba achando seu caminho. Boa sorte também seja onde estiver se empenhando!

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  2. Me identifiquei com seu relato!
    Eu ja trabalhei em um banco publico, e todo dia de manhã era uma agonia ir para aquele lugar, aguentar clientes chatos, o assedio de chefes canalhas e o puxa saquismo de coleguinhas traíras, que faziam de tudo pra te derrubar, e pisar em cima de você pra subir na empresa.
    As pessoas costumam achar que trabalhar em empresa pública é moleza, mas não tem ideia do inferno em que isso pode se transformar!
    Graças a Deus que você conseguiu superar esta fase, e sair desse emprego maldito!
    Saude mental é algo que não tem preço!
    A propósito, Kronos, onde você trabalhava? No BB ou na Caixa?

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    1. Não tem como discordar que o trabalho público tem muitos benefícios perante o tradicional com empresas privadas, mas é um trabalho como todo outro e com problemas. Acho que a questão em si é que talvez seja mais difícil subir para cargos mais altos e essa dificuldade causa desespero aos mais "esfomeados" por poder e dinheiro e acho que isso "sobe a cabeça", assim fazem "o que tiver que ser feito" para subir de cargo... atropelam os funcionários mesmo. Claro que isso existe em empresa privada, mas lá podem forçar tanto a barra ao ponto de passar a perna em alguém e este ser demitido imediatamente, já no serviço público a demissão é um entrave e sempre evitado quando possível (e aí alguns encontram meios de tornar impossível a convivência até que as pessoas próprias se demitem).
      Quanto ao meu ex local de trabalho, creio que ainda não falei no blog (não me lembro se falei no podcast com o SrIF365), mas ainda prefiro não dizer.. talvez quando completar um ano da saída em Outubro. Mas ainda não achei necessário dizer.

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