Este post também foi baseado em uma resposta de um leitor, então apenas vou fazer um complemento e alguns screenshots dos pontos abordados.
Sobre o estudo da FGV até não estava querendo fazer um texto sobre por achar que já tem algumas boas discussões em sites e no Youtube.
Mas tenho minhas críticas particulares sobre o assunto e gostaria de expor de forma breve aqui.
Resumindo bem por aqui, lendo o paper da pesquisa se vê uma fraca aquisição de dados e um certo enviesamento na forma de escrita e nas conclusões finais.
Vou me basear no resumo do trabalho uma vez que ele apresenta a proposta, alguns exemplos, a fonte de dados e os resultados obtidos (mas reli todo o paper e a única análise além,que acho relevante - e aqui vou deixar de fora para não me estender - são algumas tabelas encontradas mais ao final do artigo. Vou por tópicos para cada item marcado em amarelo no resumo.
1 - Foco do artigo
Tratou-se exclusivamente de traders de derivativos no mercado futuro. É possivelmente a modalidade mais "arriscada" dentro da B3 (exceto por alguns tipos de operações em opções), onde a alavancagem é extremamente alta (em média de 50x). Com pouca experiência já se percebe que o trade em ações à vista é bem menos arriscado, porém não atrai tanto público pois, pela baixa alavancagem, o dinheiro inicial de garantias pode ser muito mais alto mesmo em ações de grande volatilidade.
Apesar do artigo citar os papéis abordados, ao longo dele todo, a conclusão final não reforça essa diferença importantíssima entre o mercado a vista e o de futuros - a alavancagem, colocando todo tipo de Day-Trade no mesmo saco.
Acredito que seria mais responsável que isso fosse apresentado, pois senão parece apenas que o objetivo era chamar a atenção com uma "manchete chocante".
2 - Período dos dados
Os dados obtidos são de um período onde a informação ainda não era tão difundida e possivelmente os traders dessa época tiveram mais dificuldade para se informar, buscar aprendizado, encontrar cursos e até mesmo os custos operacionais eram mais caros (embora o artigo exclua os custos de corretagem), a corretagem alta acaba impactando de fato no financeiro disponível para se operar, o que pode levar a desdobramentos no modo de se operar - um bom exemplo é ser zerado pela corretora com uma quantidade maior de contratos em mão.. esse valor de corretagem pode chegar a R$ 500,00 (isso, hoje com custos mais baixos) dependendo da mão do infeliz no momento da desgraça.
Desvirtuei um pouco... mas enfim, o período foi infeliz pois, como o próprio artigo diz, a partir de 2015 ou 2017 se não estou enganado, eles já não tem dados completos e consistentes, e é onde o boom de novos participantes começa como mostrado nos primeiros gráficos do artigo. Não invalida a pesquisa, mas analisa como fato atual um cenário razoavelmente diferentes, de custos mais altos e maior déficit de informação.
3 - "300 pregões" e "Tentando de fato viver de day-trade?
Esse 'de fato' tiraram do nariz. Fazem toda a análise considerando que tentar por 300 pregões seria um significado para quem quer viver de fato do day-trade, sendo que logo nas primeiras paginas do artigo,falam sobre as corretoras informarem publicamente uma curva de aprendizagem de 1 ano.
Temos então como 300 pregões: 1 ano (247 pregões em média) e quase 4 meses. Ou seja, presume-se de forma geral que após 1 ano de aprendizado, em 4 meses a pessoa já teria superado perdas e lucrado de forma consistente? Realmente concordo que isso não parece razoável. Basta pesquisar por alguns day-traders 'solo' - independente de corretoras que o relato deles é de ganhos acima de 3, 5, 7 ,8 12 anos. Bem diferente da busca pelas corretoras. que fizeram para a pesquisa. Como eles mesmo informam que não há dados públicos consistentes de resultados - o relato da corretora acaba sendo quase tão válido quanto relatos isolados. (e talvez menos confiáveis pois "a corretora tem que vender seu peixe!").
Outro ponto é que na pesquisa eles tiveram dados das profissões destas pessoas que entraram no day-trade, porém não há nenhuma comprovação das que deixaram suas ocupações para "de fato viver de day-trade" (isso ainda não levando a consideração da generalização do termo para mercado futuro e a vista já discutido no item 1). O que quero dizer é que: operar durante 1 ano e 4 meses não faz da pessoa necessariamente um day-trader profissional. Apenas alguém persistente - que abre o ponto no qual eles não tem dados sobre as pessoas que realmente se engajaram e estudaram o assunto a finco e com seriedade (aqui incluo toda parte de estudo técnico, gerencial e psicológico) e as pessoas que jogaram na "roleta de cassino".
4 - Faixa de corte dos "bem-sucedidos" (segundo a última pg. do artigo, "renda significativa" )
Por fim, acho que o ponto que mais vi discussão foi essa "média de R$300,00". Dizem no artigo que 13 pessoas obtiveram essa média diária. Bem, pegando os 300 pregões (mínimos de operação) - no artigo eles separam os persistentes neste grupo. Vamos fazer as contas...
Em 1 ano e 4 meses essas pessoas fizeram: 90 mil reais. ( uns 6 mil por mês) é um salário bom, mas sabemos que isso já é acima do normal. Agora, olhando a tabela 3 do artigo tempos que pelo menos 1 felizardo dessa turma (que puxou a média), ganhou R$2.938 médio em 250 pregões. Façamos as contas: R$734.500 em um ano.
Neste último exemplo temos obviamente um caso excepcional e que, como falei, puxa a média. Acredito que um balizador que podia ter sido utilizado seria o ponto dos 90% (na mesma tabela) onde pelo menos o saldo ficou positivo. Aí sim seria interessante dizer/concluir que :
"Apenas 10% dos day-traders de contratos de derivativos no mercado futuro que operaram antes do boom de conhecimento sobre o mercado de ações, que contam com alavancagem de até 50x, conseguiram ter uma média positiva".
Vou me basear no resumo do trabalho uma vez que ele apresenta a proposta, alguns exemplos, a fonte de dados e os resultados obtidos (mas reli todo o paper e a única análise além,que acho relevante - e aqui vou deixar de fora para não me estender - são algumas tabelas encontradas mais ao final do artigo. Vou por tópicos para cada item marcado em amarelo no resumo.
1 - Foco do artigo
Tratou-se exclusivamente de traders de derivativos no mercado futuro. É possivelmente a modalidade mais "arriscada" dentro da B3 (exceto por alguns tipos de operações em opções), onde a alavancagem é extremamente alta (em média de 50x). Com pouca experiência já se percebe que o trade em ações à vista é bem menos arriscado, porém não atrai tanto público pois, pela baixa alavancagem, o dinheiro inicial de garantias pode ser muito mais alto mesmo em ações de grande volatilidade.
Apesar do artigo citar os papéis abordados, ao longo dele todo, a conclusão final não reforça essa diferença importantíssima entre o mercado a vista e o de futuros - a alavancagem, colocando todo tipo de Day-Trade no mesmo saco.
Acredito que seria mais responsável que isso fosse apresentado, pois senão parece apenas que o objetivo era chamar a atenção com uma "manchete chocante".
2 - Período dos dados
Os dados obtidos são de um período onde a informação ainda não era tão difundida e possivelmente os traders dessa época tiveram mais dificuldade para se informar, buscar aprendizado, encontrar cursos e até mesmo os custos operacionais eram mais caros (embora o artigo exclua os custos de corretagem), a corretagem alta acaba impactando de fato no financeiro disponível para se operar, o que pode levar a desdobramentos no modo de se operar - um bom exemplo é ser zerado pela corretora com uma quantidade maior de contratos em mão.. esse valor de corretagem pode chegar a R$ 500,00 (isso, hoje com custos mais baixos) dependendo da mão do infeliz no momento da desgraça.
Desvirtuei um pouco... mas enfim, o período foi infeliz pois, como o próprio artigo diz, a partir de 2015 ou 2017 se não estou enganado, eles já não tem dados completos e consistentes, e é onde o boom de novos participantes começa como mostrado nos primeiros gráficos do artigo. Não invalida a pesquisa, mas analisa como fato atual um cenário razoavelmente diferentes, de custos mais altos e maior déficit de informação.
3 - "300 pregões" e "Tentando de fato viver de day-trade?
Esse 'de fato' tiraram do nariz. Fazem toda a análise considerando que tentar por 300 pregões seria um significado para quem quer viver de fato do day-trade, sendo que logo nas primeiras paginas do artigo,falam sobre as corretoras informarem publicamente uma curva de aprendizagem de 1 ano.
Temos então como 300 pregões: 1 ano (247 pregões em média) e quase 4 meses. Ou seja, presume-se de forma geral que após 1 ano de aprendizado, em 4 meses a pessoa já teria superado perdas e lucrado de forma consistente? Realmente concordo que isso não parece razoável. Basta pesquisar por alguns day-traders 'solo' - independente de corretoras que o relato deles é de ganhos acima de 3, 5, 7 ,8 12 anos. Bem diferente da busca pelas corretoras. que fizeram para a pesquisa. Como eles mesmo informam que não há dados públicos consistentes de resultados - o relato da corretora acaba sendo quase tão válido quanto relatos isolados. (e talvez menos confiáveis pois "a corretora tem que vender seu peixe!").
Outro ponto é que na pesquisa eles tiveram dados das profissões destas pessoas que entraram no day-trade, porém não há nenhuma comprovação das que deixaram suas ocupações para "de fato viver de day-trade" (isso ainda não levando a consideração da generalização do termo para mercado futuro e a vista já discutido no item 1). O que quero dizer é que: operar durante 1 ano e 4 meses não faz da pessoa necessariamente um day-trader profissional. Apenas alguém persistente - que abre o ponto no qual eles não tem dados sobre as pessoas que realmente se engajaram e estudaram o assunto a finco e com seriedade (aqui incluo toda parte de estudo técnico, gerencial e psicológico) e as pessoas que jogaram na "roleta de cassino".
4 - Faixa de corte dos "bem-sucedidos" (segundo a última pg. do artigo, "renda significativa" )
Por fim, acho que o ponto que mais vi discussão foi essa "média de R$300,00". Dizem no artigo que 13 pessoas obtiveram essa média diária. Bem, pegando os 300 pregões (mínimos de operação) - no artigo eles separam os persistentes neste grupo. Vamos fazer as contas...
Em 1 ano e 4 meses essas pessoas fizeram: 90 mil reais. ( uns 6 mil por mês) é um salário bom, mas sabemos que isso já é acima do normal. Agora, olhando a tabela 3 do artigo tempos que pelo menos 1 felizardo dessa turma (que puxou a média), ganhou R$2.938 médio em 250 pregões. Façamos as contas: R$734.500 em um ano.
Neste último exemplo temos obviamente um caso excepcional e que, como falei, puxa a média. Acredito que um balizador que podia ter sido utilizado seria o ponto dos 90% (na mesma tabela) onde pelo menos o saldo ficou positivo. Aí sim seria interessante dizer/concluir que :
"Apenas 10% dos day-traders de contratos de derivativos no mercado futuro que operaram antes do boom de conhecimento sobre o mercado de ações, que contam com alavancagem de até 50x, conseguiram ter uma média positiva".
destaque para o verbo no PASSADO - o modo apresentado no artigo dá a entender em alguns pontos que pretende ser uma representação do presente.
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Apesar disso acredito sim que os resultados estejam por volta do apresentado pela extrema dificuldade do Day-trade e da persistência necessária.
Acredito que estes números melhorem com o tempo devido ao conhecimento sendo mais difundido atualmente, mas mesmo assim serão números baixos, pois o trade é uma das profissões consideradas de alta performance onde poucos alcançam ótimos resultados o perigo está aí: em querer ótimos resultados no curtíssimo prazo - perigo do qual já sofri as consequências e ainda sofro as vezes - as vezes é difícil ser 100% racional durante o trade.
Só para constar conheço pessoalmente apenas um trader que saiu dessas estatísticas há cerca de um ano. Ainda é curto o período para analisar, mas ele está há 3 anos neste mercado e junto com outros relatos de traders anônimos ou não, observamos que o período de 1 ano ainda é curto para análise mais séria e conclusiva.
Depois de apontar algumas coisas no artigo, considero que a pesquisa nessa área é importante justamente pelo próprio propósito da pesquisa de balizar a decisão de quem ainda não está o mercado ou de quem já está e algum tempo, mas achei que, seja pela falta de dados ou seja pelo viés do texto, este artigo ainda não traz pontos relevantes da realidade.
A análise acabou ficando mais longa que o planejado.
K.T.
Só para constar conheço pessoalmente apenas um trader que saiu dessas estatísticas há cerca de um ano. Ainda é curto o período para analisar, mas ele está há 3 anos neste mercado e junto com outros relatos de traders anônimos ou não, observamos que o período de 1 ano ainda é curto para análise mais séria e conclusiva.
Achei um pouco tendenciosa essa dedução na introdução do artigo - pelos motivos já citados acima. |
Depois de apontar algumas coisas no artigo, considero que a pesquisa nessa área é importante justamente pelo próprio propósito da pesquisa de balizar a decisão de quem ainda não está o mercado ou de quem já está e algum tempo, mas achei que, seja pela falta de dados ou seja pelo viés do texto, este artigo ainda não traz pontos relevantes da realidade.
A análise acabou ficando mais longa que o planejado.
K.T.
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